Até fevereiro deste ano, pelo menos 77,83 milhões de doses da vacina contra o novo coronavírus foram descartadas sem serem usadas, segundo uma pesquisa do jornal Mainichi. Esse número foi obtido a partir de dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão e de um levantamento com as principais prefeituras do país.
A principal causa do descarte é o vencimento das vacinas, que corresponde a aproximadamente 9% do total de doses contratadas. Com o prazo de validade se aproximando, espera-se que essa quantidade aumente, e especialistas pedem uma análise dos motivos que levaram ao descarte em massa.
O governo não divulgou o preço unitário de cada dose da vacina, tornando impossível calcular o custo das vacinas descartadas. No entanto, o Ministério das Finanças estima que o valor de cada dose seja de 2.725 ienes, com base no orçamento de compra e no total de contratos assinados. Multiplicando esse valor pelo número de vacinas descartadas, estima-se que tenham sido desperdiçados cerca de 212 bilhões de ienes em vacinas. Um executivo do Ministério da Saúde disse que “não podemos negar a possibilidade de calcular o valor total das vacinas descartadas multiplicando por 2.725 ienes“, sugerindo que a cifra não está muito distante da realidade.
O governo adquiriu vacinas contra o coronavírus das empresas americanas Pfizer (399 milhões de doses) e Moderna (213 milhões de doses), da britânica AstraZeneca (120 milhões de doses, posteriormente reduzidas para 62,3 milhões) e da americana Novavax (150 milhões de doses, posteriormente reduzidas para 141,76 milhões). Dessas, o Ministério da Saúde identificou 63,9 milhões de doses da Moderna e 13,58 milhões de doses da AstraZeneca que foram descartadas devido ao vencimento.
A pesquisa do jornal Mainichi foi realizada em fevereiro com 121 prefeituras, que relataram o motivo do descarte, o número de doses e questões relacionadas ao sistema de vacinação em suas áreas. A maioria das autoridades locais citou o vencimento das vacinas como o principal motivo do descarte. Inclusive, algumas prefeituras tiveram dificuldades para lidar com vacinas Moderna que chegaram próximo da data de vencimento: “As doses tinham apenas alguns meses de validade e tentamos coordenar entre as cidades e vilarejos para evitar o desperdício, mas ainda assim, algumas doses não puderam ser usadas”, disse um representante da província de Toyama.
Além disso, a pesquisa apontou que o receio de efeitos colaterais levou muitas pessoas a não se vacinar, contribuindo para o aumento do descarte. A cidade de Takamatsu, por exemplo, sugeriu que a preocupação com efeitos colaterais pode ter sido um fator. Outro fator que impactou a utilização das vacinas foi a diminuição da demanda pelas doses tradicionais com o desenvolvimento de vacinas mais recentes voltadas para a variante ômicron.
Considerando o valor de 2.725 ienes por dose de vacina, o orçamento atual inclui também os custos de transporte e demais logísticas, podendo sofrer variações em relação ao preço real da vacina. No entanto, o preço unitário de compra não foi divulgado devido a contratos de confidencialidade entre os fabricantes e o governo.
A pesquisa também revelou que, até novembro do ano passado, pelo menos 700 mil doses foram descartadas em 47 prefeituras, e estima-se que o número real de descarte continue a aumentar.
Manabu Akazawa, professor de economia farmacêutica da Universidade Meiji, comentou: “Um certo nível de descarte de vacinas é inevitável. Do ponto de vista da gestão de crises, é necessário manter um estoque de vacinas. Por outro lado, deveria haver mais discussões científicas sobre como priorizar a distribuição em áreas com maior risco, como centros urbanos com maior mobilidade e interação social. A falta de eficiência na distribuição igualitária das vacinas por meio das prefeituras resultou em desperdício. Uma análise dos motivos do descarte em massa é crucial para o futuro da vacinação no país.”